terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Números que mentem.


Copiado na íntegra do Blog CIDADANIA.COM, do Eduardo Guimarães, que está entre os meus favoritos.

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Saraiva
06/01/2009

Análise econômica

Números que mentem

Notícia que saiu hoje em portais de internet da imprensa corporativa (Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado etc) trata de manipular números de forma a enganar o leitor, de induzi-lo a crer numa tragédia que teria sido a maior derrocada da economia brasileira nos últimos 13 anos, o que deveria ter provocado uma onda de demissões em massa sem precedentes neste período recente e até em outros.
No meio da tarde de terça-feira, dia 6 de janeiro de 2009, as manchetes dos grandes portais de internet avisavam sobre a maior queda na produção industrial desde 1995, em mais de uma década. A desgraça seria pior do que aquela que se abateu sobre o país em 1999, quando o Brasil quebrou, o desemprego e a inflação explodiram e tivemos que nos socorrer de 40 bilhões de dólares de empréstimos do FMI e dos EUA.
Então, meu caro leitor, se você não fez isso ainda, com esta notícia você pode ir tratando de pôr as barbas de molho, porque o seu emprego já era. Cancele os cartões de crédito da mulher e dos filhos, venda seu carro, troque as lâmpadas de casa. Nada mais de iogurtes, queijos, vinhos ou qualquer outro luxo que lhe apeteça, nem que seja um torresminho e uma gelada. Você, agora, se tornará um ferrado na vida.
Mas talvez você queira pensar melhor... Será que a situação é tão feia quanto dizem as manchetes? “Maior queda na produção industrial desde 1995”... Foi falta de demanda? O que foi que aconteceu?
Andei fuçando nos números do INA (Índice Nacional de Atividade), apurado pelo IBGE. Achei os números no site da Fiesp. Esses números, segundo a entidade, sofreram ajuste sazonal e mostram, de janeiro a outubro de 2008, o comportamento da atividade industrial que costuma haver em cada mês do ano de acordo com os fatores que determinam queda ou aumento na atividade deste ou daquele setor.
A pesquisa abrange os seguintes setores:
Indústrias de Transformação
Fabricação de alimentos e bebidas
Fabricação de produtos têxteis
Fab. de celulose, papel e prod. papel
Edição, impressão e reprod. gravações
Fab. coque, refino comb. nuclear, álcool
Fabricação de produtos químicos
Fab. de artigos borracha e plástico
Fab. produtos minerais não-metálicos
Metalurgia básica
Fab. prod. metalicos - excl. máquinas
Fab. de máquinas e equipamentos
Fab. máq. e equip. escritório e inform.
Fab. máq., aparelhos e mat. elétricos
Fab. mat. eletrônico e equip. comunic.
Fab. veículos automotores
Fab. outros equipamentos de transporte
Fab. móveis, indústrias diversas
Nesses setores todos, o nível de atividade industrial ficou da maneira que vocês vêem abaixo, no acompanhamento mês a mês. Analisem que eu volto logo depois dos números.

Período Pontuação Variação
janeiro de 2008 2465,00
fevereiro de 2008 2495,56 1,24%
março de 2008 2401,96 -3,75%
abril de 2008 2517,87 4,83%
maio de 2008 2446,17 -2,85%
junho de 2008 2519,69 3,01%
julho de 2008 2551,65 1,27%
agosto de 2008 2449,08 -4,02%
setembro de 2008 2556,67 4,39%
outubro de 2008 2592,76 1,41%

Vocês perceberam, é claro, o sobe e desce do nível atividade. Com esses números, pode-se fazer muitas “brincadeiras” numa planilha do Excel. Por exemplo, pode-se dizer que até outubro a atividade deste ano cresceu 5,53%, segundo o INA. Em novembro, teria havido uma queda maior da atividade industrial, segundo a mídia. Mas tem um detalhe: tal queda se deve não à falta de mercado, de consumidores, mas à falta de crédito.
Não será suficiente, porém, para exterminar o crescimento da economia no quarto trimestre de 2008, porque ainda entra em campo o fator demanda, vendas no comércio, que em dezembro explodiu, com forte crescimento sobre um patamar altíssimo, o de 2007.
Tem-se como fatores determinantes desse fato a retomada de vendas de veículos novos graças à redução do IPI sobre esse produto e a retomada da concessão do crédito pelas instituições financeiras, que todos sabem que aumentou no Brasil por conta de medidas do governo tais como liberação do depósito compulsório dos bancos e abertura de linhas de crédito nos bancos estatais.
O cenário é de franca recuperação da atividade e do crédito. E demissões, que são o que importa para a atividade econômica, têm custo elevado para as empresas num momento em que não se pode prever o que acontecerá com a economia, mas no qual já se percebe reações em vários setores. Não há, portanto, absolutamente nenhum fator lógico em previsões catastróficas sobre a economia. Pelo contrário.
Sugiro, pois, que você não pare de comprar seus queijos e vinhos ou seu torresminho e sua gelada. Não venda seu carro nem deixe de consertá-lo, se estiver com defeito. Compre iogurtes para as crianças. Não deixe ninguém andar com sapato furado. Seu patrão não irá demiti-lo agora, pagando de uma vez vários meses de salário, multa sobre o FGTS etc., se daqui a 3 ou 4 meses tudo estiver normal. O fator determinante de problemas na economia foi falta de crédito, e esse crédito já está retornando. Ninguém nega isso.
Cheguei a ter 40 funcionários na empresa que eu tinha na época do FHC. Sei muito bem que com a tragédia econômica daquela época e tudo, nós empresários éramos obrigados a tentar manter os empregos o máximo possível.
As pessoas precisam entender que é só nas situações limite, quando não há perspectiva nenhuma de retomada da atividade econômica que se põe pais de família na rua. E nem é por bondade, mas por não ser boa prática administrativa pagar 3, 4 meses de salário para um funcionário, ao mandá-lo embora, para depois de 3, 4 meses ter-se que contratar pessoal de novo.
Não creia na crise. Não creia nos números da mídia. Nos números, como em tudo nesta vida, é possível mentir descaradamente falando só a verdade. Escrito por Eduardo Guimarães às 17h22[(9) Opiniões - clique aqui para opinar] [envie esta mensagem]
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