quarta-feira, 16 de julho de 2014

A polêmica da comemoração alemã


Velho continente, velha mania de superioridade

Primeiro foi aquela capa da Der Spiegel, jogando uma bola incandescente sobre a cidade maravilhosa. Com uma análise depreciativa a respeito do Brasil.

Agora, o vídeo com a comemoração da seleção em que alguns jogadores nos imitam como se fôssemos macacos.

Não entendo alemão, por isso não sei o se o que o texto do Flávio Aguiar diz é verdadeiro ou falso, mas eu acredito neste gaúcho de conheço de largas leituras desde os tempos da Letras na UFRGS, não só pelos anos de estrada que tem, mas também a respeito do seu conhecimento da Alemanha, pois lá vive e trabalha.

E pelo que Flávio Aguiar já publicou, não foi apenas um momento de descontração, inebriados pela vitória. O dia a dia por lá, em Berlim, tem sido mais ou menos isso. O desprezo pelo Brasil que acolheu tantos alemães. Aliás, algo muito parecido com o que se passava na Itália de Sílvio Berlusconi. O desprezo pelos brasileiros tidos e havidos como vagabundos que iam para a Itália buscar cidadania para roubar dos italianos emprego e renda.

Se se dessem ao respeito e pensassem porque tantos europeus aportaram no Brasil, e em que condições, talvez fizessem um mea culpa. O país que abrigou os filhos que eles trataram como bastardos e que agora os reconhece como macacos, deu-nos a oportunidade de “fazer a América”.

santiago2Dizem que houve algo parecido na Argentina, com torcedores revoltados com a derrota da seleção chamaram brasileiros de macacos. Mas, pelo que li no feice, teria sido apenas com a torcida. Não se tem notícia de que algo parecido tenha sido dito por jogadores.

Depois dos desmentidos a respeito da sede em Santa Cruz Cabrália, ao lado de Porto Seguro, na Bahia, agora os alemães aprontaram mais esta. 

Aliás, que coincidência. Escolheram o local onde os conquistadores aportam. Foi lá que os tais de descobridores trocaram espelhinhos por pepitas de ouro…

Pior do que o velho colonialismo são nossos vira-latas, que se ajoelham para qualquer europeu. Nossos racistas aproveitaram o cumprimento da Presidente Dilma aos jogadores da Seleção Alemã para acusa-la de racista. Editaram um vídeo e divulgaram para mostrar que Dilma não teria cumprimentado Boateng, da mesma forma como inventaram a tal de construção de centro pela Alemanha que deixaria de legado… Fizeram um carnaval pela doação de 30 mil euros. Puxa, é menos de um terço de um mês de salário do Mario Götze! Bolsa esmola é isso aí!

Há vários motivos para se torcer pela Alemanha. A começar pela a descendência europeia, um bom futebol. Mas a pior foi porque, dizem, houve planejamento. Porra! Então quer dizer que a Argentina não fez planejamento? A Costa Rica não fez planejamento? Muito me assustaria se alguém disse que Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Itália não tivessem feito planejamento. Como diz o ditado, vira-lata que acredita nisso, acredita em tudo!

Depois de todo marketing para cima dos brasileiros, “esbanjando simpatia na praia”, em casa revelam o outro lado. Parece que não estavam na praia, mas no zoológico, interagindo com os macacos brasileiros. Os gaúchos que tanto festejaram os alemães, de repente se veem comparados a macacos.

Quanto estive na Holanda, nos anos 90, os holandeses me contaram uma faceta nada amigável dos alemães. Disseram que os alemães invadiam Amsterdã nos fins de semana para se intoxicarem de bebida, maconha e sexo, que na Holanda era, sob controle, liberado, sujavam calçadas e faziam xixi pela rua. Depois voltavam para a Alemanha e se comportavam como bons pais de família.

Agora, me digam, de que valem tantos prêmios Nobel?! De que serve estudar, ter curso superior se a pessoa não consegue descortinar dos seus estudos uma contextualização, uma comparação histórica.

Nos nos 1700, quando éramos colônia de Portugal, os alemães já podiam ler Kant. Os brasileiros já eram traídos por Joaquim Silvério dos Reis…

Gilmar Crestani
No Ficha Corrida

Que lástima! Jogadores alemães jogam fora patrimônio da Copa

Podem ter tomado muita coisa. Mas o que veio à tona é horrível. É sinal de que a taça não está em boas mãos. Caiu nas velhas mãos do racismo alemão.

Flávio Aguiar

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Foi triste. Muito triste.
A comemoração era legítima. O orgulho do povo também. A Alemanha conquistara a 4ª Copa do Mundo. Com um desempenho de equipe brilhante. Poderia ter sido melhor, mas foi o melhor. Deu um baile no Brasil e teve uma vitória sofrida contra a Argentina na final.

Ergueram a taça, levaram o caneco pra casa.

Aí desandou. (Veja abaixo o vídeo)

500 mil pessoas estavam em Berlim, para a comemoração. Desde a manhã, as ruas estavam tomadas, sobretudo entre o aeroporto de Tegel e o Portão de Brandenburgo, onde haveria o evento oficial.

Aí a maionese desandou.

Não sei de onde partiu a ideia.

Seis jogadores: Klose, Schürrle, Mustafi, Götze, Weidenfeller e Kroos — entraram na passarela imitando macacos, andando quase de cócoras, e gritando: “assim andam os gauchos”. Depois se erguiam e gritavam: “assim andam os alemães”.

Uma lástima.

Depois vinham outros jogadores: Schweinsteiger, Neuer, Höwedes, Grosskreuz, Draxler, Matthias Günther, imitando uma fila indiana (como os brasileiros entravam em campo) se abaixando.

Uma pena.

Houve até aplausos.

Jogaram fora uma vitória. Esta é a Copa das surpresas.

A Alemanha deu uma lição ao mundo ao criar uma seleção multi-culti.

E agora os jogadores que lideraram e usufruíram desta revolução deram a meia volta no relógio da história e protagonizaram esta cena ridícula e vergonhosa.

Podem ter tomado muita coisa. Mas o que veio à tona é horrível. É sinal de que a taça não está em boas mãos. 

Caiu nas velhas mãos do racismo alemão.

Infelizmente.

A seleção alemã tem que fazer um arrependimento coletivo, e merecer o que ganhou.

* * *

“Gaúchos andam assim”: o mimimi em torno da comemoração da seleção alemã em Berlim


E então há uma onda de indignação por causa da maneira como jogadores alemães comemoraram o título em Berlim.
Recebidos por uma multidão calculada em 500 mil almas, Mario Götze, Miroslav Klose, Toni Kroos, André Schürrle, Shkodran Mustafi e Roman Weidenfeller se puseram a cantar e a dançar, que é o que as pessoas normais costumam fazer quando ganham um tetracampeonato.
Vestidos com camisas especiais, com o número 1 na frente, eles entoaram um grito de guerra. “Somos gaúchos e gaúchos andam assim” — e se curvavam; “Somos alemães e alemães andam assim” — e voltavam a ficar eretos.
Pronto.
Foram xingados de canalhas, racistas — e nazistas, obviamente. Uns falsos. Parte da imprensa alemã não os poupou. A revista Der Spiegel disse que aquilo “não foi nada simpático”.
Mas a maior parte das críticas veio, como era de se esperar, da Argentina. O jornal Olé, famoso por chamar brasileiros de macaquitos não faz muito tempo, registrou a ofensa. Para o jornalista Juan Pablo Méndez, os atletas são “miseráveis”. Ele também pediu providências à AFA (Asociación del Futbol Argentino).
Menos. Bem menos.
Vamos lembrar das pichações malcriadas no Sambódromo. Sem esquecer que a seleção argentina, Messi incluído, cantou o famoso “Decime que Se Siente” (Brasil, decime que se siente/Tener en casa a tu papá/…/A Messi lo vas a ver/La Copa nos va a traer/Maradona es más grande que Pelé). O “papá” da letra não é a figura paterna dos seus sonhos. E daí?
Bem, a tal comemoração dos alemães não é nova e é uma bobagem. Existe há pelo menos dez anos e é frequente na Bundesliga. Postei no fim deste artigo um vídeo de 2007 da torcida do Hamburgo fazendo a mesma provocação com o time do Nuremberg.
Há pelo menos cinquenta vídeos com a tal música. Mudam os atores, mas a pantomima é igual. Não tem racismo no meio. Os perdedores caminham cabisbaixos, os vencedores não. Perto do modo como, digamos, são paulinos se referem a corintianos no campo — e vice-versa —, é um poema.
Os alemães carregam esse estigma. Qualquer manifestação com mais de meia dúzia de cidadãos pode ser qualificada como um comício nacional-socialista, dependendo da testemunha e especialmente se um deles apontar para um avião com a mão espalmada.
O patriotismo exacerbado, ainda que na celebração de uma conquista de Copa do Mundo, levanta suspeitas imediatas. Chegaram a comparar a agachada do sexteto alemão às caricaturas de judeus no Reich — corcundas e narigudos.
Eles tiraram um sarro dos rivais argentinos, mas quem nunca? Enquanto isso, o “Sou Brasileiro com muito orgulho, com muito amor” está por aí, nos estádios, acabando com o futebol, e ninguém fala nada.


Kiko Nogueira
No DCM

Um comentário:

Carmen Regina Dias disse...

" Nos nos 1700, quando éramos colônia de Portugal, os alemães já podiam ler Kant. Os brasileiros já eram traídos por Joaquim Silvério dos Reis…"

E, com este fechamento do artigo, a gente entendeu. Quem leu Kant em
http://www.espacoacademico.com.br/083/83praxedes.htm
quando Kant esbanja sua visão sobre africanos e negros, da forma mais nazista que se possa imaginar. E é super incensado até os dias atuais.
Eu não leio mais nada de Kant, nem quero saber. Depois que li esta parte da sua obra perdi o tesão. Preconceito que gerou, quem sabe, o pensamento, a ação e a barbarie nazista.

Se era isso que os alemães quiseram veicular ao mundo após a sofrida jornada em campo com os argentinos, onde quase não conseguem o título... façam bom uso.