segunda-feira, 14 de julho de 2014

Gilson Caroni Filho: Derrota do Brasil não trará dividendos à oposição

Do Viomundo - publicado em 13 de julho de 2014 às 22:09


Alemanha e Brasil

por Gilson Caroni Filho

Após a derrota do Brasil, choveram análises na grande imprensa associando o fracasso da seleção a uma urgente necessidade de reorganizar o país ( não apenas reformular as instâncias responsáveis pelas diversas práticas esportivas) em moldes “modernos”. Leia-se: uma modernização radical feita pelo mercado, com claras associações ao modelo neoliberal que pretende ressurgir na candidatura Aécio Neves. Em conversa com amigos, sempre tentei explicar a falácia da proposta, apontando para o que, deliberadamente, ocultava. A todos respondi com um ” a resposta está dentro de campo”. Como vários não entenderam, volto ao debate para elencar os sofismas.


1 — Muitos tentaram explicar o placar dilatado pelo nível de gerenciamento do futebol alemão. Se for por aí, pelo placar, Alemanha e Gana, que empataram em 2×2, estão no mesmo patamar de gestão.

2 — Que o futebol é mal administrado, sabemos desde 1954, quando Flávio Costa afirmou que a maior paixão do brasileiro só tinha evoluído do túnel pra fora.Mesmo assim, com o que há de pior nas federações e confederações,encantamos o mundo em 1958/62/70/ 82, e ganhamos em 1994 e 2002. Isso não nega a urgência de reformulação, mas está longe de explicar a goleada de ontem.

3 — Os que, por cálculo político, acham que a derrota trará dividendos à oposição vivem em Marte. Esta foi a Copa das Copas que, contrariando os prognósticos de articulistas da grande mídia, TV Globo em especial, arrancou elogios da imprensa internacional e encantou a todos os que vieram ao Brasil pela primeira vez.Aeroportos funcionando perfeitamente, estádios bem construídos, jogos de alto nível técnico e a nossa hospitalidade contribuíram para o clima de magia vivido nos últimos dias.Ninguém aqui ignora que nossa sociedade ainda é muito desigual, mas isso não anula a confraternização de povos vista em praias, ruas e estádios.

4 — O surrado argumento de que o desempenho em campo reflete a sociedade brasileira é derrubado com uma simples pergunta: éramos melhores quando apresentávamos um futebol mágico? Vivíamos dias felizes na Copa de 70?

5 — Parte do sucesso dos alemães se deve a uma bem traçada estratégia de RP. Li isso também. A escolha da camisa( com cores que estão na bandeira alemã) levaria a uma identificação imediata da torcida do Flamengo com a seleção germânica.Acreditar nisso é passar um atestado de idiotia no torcedor brasileiro, na sua capacidade de discernimento. Claro que o flamenguista, como qualquer torcedor, é brincalhão, gosta de tirar onda, mas sabe diferenciar as coisas. Ademais, cabe lembrar que Vitória, Sport e outros clubes têm camisas rubro-negras. E, cá entre nós, um bom RP aconselharia a administrar o jogo a partir do terceiro gol e não promover o massacre de 7×1.

6 — A Copa termina domingo. Pode ser que a Alemanha, com o resultado obtido ontem, embale e ganhe a Copa. Ou não. Eu sei que os tempos são outros, mas em 1950, o Brasil venceu a Suécia por 7×1, a Espanha (com quem os uruguaios haviam empatado) por 6×1 e todos sabem qual foi o desfecho. Por isso o futebol é mágico, imprevisível e trágico. Repito: busquem explicações dentro do campo. É nele que os deuses estão.

Em outubro, o embate dos embates será na esfera política. E nela não há deuses, magia ou grandes metáforas. O que estará em jogo é se queremos avançar com políticas de inclusão social, aprofundamento da cidadania, fortalecimento do Estado ou se pretendemos voltar a crer no ” destino manifesto” da submissão ao imperialismo e do sucateamento de nossa estrutura produtiva. Quando a democracia se vê ameaçada, é hora de reafirmarmos nossa têmpera de combatentes. E aí não há espaço para viralatices,com as quais as elites reacionárias construíram sua identidade. Que não pode se confundir com a nossa.


PS do Viomundo: O texto foi escrito antes da vitória da Alemanha.
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