segunda-feira, 11 de agosto de 2014

“Mercado de Notícias” é bom de ver e de pensar



Se você já percebeu que há alguma coisa errada no jornalismo brasileiro, recomendo entrar no primeiro cinema que aparecer à sua frente para assistir “Mercado de Notícias,” de Jorge Furtado.

Com a segurança de quem entra num debate complicado, Jorge Furtado evita a simplificação e o pedantismo. O roteiro pede ajuda a uma peça de 1625 de Ben Jonhson, para discutir a origem do jornalismo nas sociedades modernas. E vai ao fundo da questão ao retratar a construção da notícia como mercadoria – esse ente intercambiável, que se reproduz, se compra e se vende.

Estamos falando, basicamente, de dinheiro e propriedade. O protagonista da peça é um herdeiro jovem e rico, que não sabe direito o que fazer com a própria fortuna, até que é convencido por amigos a abrir um jornal – e é assim, com ambição de lucro e certa futilidade, que o filme começa, há quase quatro seculos atrás.

Mas “Mercado de Notícias” combina ficção dramática e documentário. Jorge Furtado ouviu o depoimento de 13 jornalistas brasileiros, que surgem na tela em aparições que nada têm de decorativas. Ajudam a debater valores, controles ideológicos e vexames recentes dos meios de comunicação, que permitem lembrar a dificuldade de se praticar, em casa, as lições e recomendações que são ponto de honra dos manuais de redação.

O filme nada contra a correnteza das banalidades convencionais para discutir o ponto político essencial: por que o jornalismo deixou de mostrar o país e o mundo em que vivemos?

A resposta não é fácil mas está lá, na tela.

(Ao lado de Janio de Freitas, Raimundo Rodrigues Pereiras, Mino Carta, Bob Fernandes, fui um dos 13 jornalistas entrevistados para o filme. Você pode ver, abaixo, a íntegra de meu depoimento:


Paulo Moreira Leite

Leia também: O Mercado de Notícias - Ato - I

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