Matéria do Observatório da Imprensa de 06/02/2007
O site noticioso NovoJornal, — (censurado por Aécio Neves) — de Belo Horizonte, trouxe em 23/1/2007 a seguinte manchete "Governador de Minas, Aécio Neves, paga US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo de Televisão na compra da Light". Será?
Daniel Florêncio
No OI
O site noticioso NovoJornal, — (censurado por Aécio Neves) — de Belo Horizonte, trouxe em 23/1/2007 a seguinte manchete "Governador de Minas, Aécio Neves, paga US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo de Televisão na compra da Light". Será?
Em investigação realizada pelo site, são revelados detalhes de um
negócio em que o governo mineiro, com capital da Cemig, criou uma outra
empresa, a RME – Rio Minas Energia Participações S/A, a qual comprou a
Light "transferindo para os fundos credores da Rede Globo (...) um
crédito em ações de US$ 269 milhões, através do pagamento feito a maior
que a quantidade de ações adquiridas na Bovespa pela RME – Rio Minas
Energia Participações S/A, na operação de compra".
Segundo o site, quando se analisa a compra da Light pela RME com
documentos da Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da
Fazenda, percebe-se que, apesar de ter pago por 79,57% das ações da
Light, a RME só adquiriu 75,40%. Tal operação, de acordo com o site, é
utilizada por empresas particulares para esconder ou desviar lucros,
tal como quando se compra nota fria. O saldo da operação seria o
destinado à amortização da dívida da Globo para com credores
estrangeiros.
Toda a negociação, aparentemente, envolveu a posse do ex-presidente da holding do Grupo Globo, Ronnie Vaz Moreira,
como presidente da tal RME - Rio Minas Energia Participações S/A e
como diretor-financeiro da Light. Em suma, o povo mineiro, sem saber,
através de sua companhia elétrica estadual, financiou o salvamento do
grupo Globo, para que este agisse em favor do governador mineiro Aécio
Neves.
Nesse processo, a Cemig acabou por constituir sociedade com várias
empresas particulares na RME, porém sua participação é de apenas 25%.
Ainda de acordo com o site, "a irregularidade na constituição da
empresa é tão grande e insanável que a Junta Comercial e a Receita
Federal não conseguem explicar como isto ocorreu, prometendo
pronunciar-se só depois de uma profunda e detalhada investigação".
Blindagem eficiente
Como os credores da Globo nos EUA já tinham entrado com pedido de
falência contra a empresa em Nova York, o pagamento da dívida teve quer
ser feito dentro da contabilidade da Globo, o que acabou "deixando
rastro".
O site se alonga em detalhes exaustivos da operação e cita, inclusive,
dados da Justiça norte-americana, a qual, embora busque explicações da
origem do dinheiro da Globo para o pagamento do seu pedido de falência,
deixa um vazio justamente ao não explicar qual o mecanismo de entrada
desses recursos no caixa da Globo. Não explica o X da questão.
O site dá indícios e mostra evidências fortes que devem ser apuradas
pelo poder público e pela mídia. A questão é: qual mídia? Se tal
operação de salvamento da Globo através de artimanhas do mercado
financeiro foi realmente articulada pelo governo de Minas, por dedução
explica-se a eficiente blindagem e o quase apoio institucional que o
governador Aécio Neves recebe da Globo.
A Globo, por meio de seus veículos, não noticiaria ou mobilizaria a
opinião pública para uma irregularidade cometida para sanear suas
dívidas. Ou noticiaria? Aparentemente, também não o fariam o Grupo
Abril ou o Grupo Folha, pois, segundo matéria do mesmo site ("Aécio
Neves entrega Copasa às multinacionais espanholas OHL, Agbar e Capital
Group, para montar campanha à Presidência"),
em operação financeira dessa vez envolvendo a Copasa, o governo de
Minas acabou cedendo capital da empresa para grupos econômicos com
participação nos dois grupos de comunicação.
Cabe, no entanto, aos meios de comunicação não acusados e ao poder
público apurarem as denúncias de uso de capital de empresas públicas e
estratégicas para o financiamento de articulações e movimentações entre
políticos e grupos de comunicação.
Sugiro a este Observatório e aos profissionais de mídia
investirem na apuração dessas denúncias. Seria uma nova "Sociedade dos
Amigos de Plutão"? Pode ser, mas deve ser investigado para se chegar a
essa conclusão. Sendo as operações irregulares ou não, e tendo
realmente ocorrido, poderia tratar-se de uma manobra para obter
controle sobre o que é publicado nos meios de comunicação de maior
alcance no país, sobre controle dos grupos Globo, Folha e Abril. Ao
financiar com dinheiro público o saneamento das dívidas do Grupo Globo,
Aécio Neves se tornaria parceiro. Sócio. Ao permitir que capital da
Copasa se misture com capital de grupos estrangeiros dos quais fazem
parte Folha e Abril, novamente Aécio se tornaria parceiro. Sócio. Em suma, se trataria de uso de dinheiro público para fins pessoais.
Projeto de poder
A crise financeira que assolou os veículos de comunicação, associada à
atual transformação no mercado de capitais e à entrada no país de novos
grupos investidores em telecomunicações e tecnologia, acabou por
configurar um cenário em que o grupo com maior poder de barganha, leva.
Não se trata de ideologia ou projeto político, mas pura e simples
lógica de mercado. Quem paga mais, leva.
Como o atual governo não o fez através de financiamento oficial do BNDES, tão discutido alguns anos atrás, Aécio, segundo o NovoJornal,
o teria feito através das ferramentas que tem à mão, dispondo de
capital público, pertencente aos cidadãos mineiros, para, assim,
aproximar-se daqueles que divulgam idéias e para levar a si próprio e a
seu grupo político à presidência da República.
Desde o início de seu primeiro mandato ouve-se falar em cerceamento da
imprensa pelo governo de Minas. Em todos os veículos. Mas, se
confirmadas as denúncias apresentadas pelo site, a compra da "grande
mídia" no país para o benefício, impulso da imagem e conseqüente
chegada à presidência de Aécio Neves se mostrará não apenas como
censura ou cerceamento de idéias, mas como um profundo e bem
arquitetado projeto de chegada ao poder — não só do governador, mas de
todo um complexo, poderoso e influente grupo político e econômico.
Será?
Daniel Florêncio
No OI
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