domingo, 17 de agosto de 2014

Sem bola de cristal

São tantas as variações possíveis, entre a solução para substituir Eduardo Campos e os desdobramentos disso nos arranjos políticos e no eleitorado, que as muitas especulações a respeito não alcançam nem o mais leve sentido. Mesmo os negociadores e outros interessados diretos estão no escuro, à falta de indícios para orientar as decisões.

Só alguns exemplos, entre tantos disponíveis. Quantos dos candidatos a governos estaduais comprometidos com Eduardo, sobretudo os não filiados ao PSB, tenderiam a apoiar de fato a campanha de Marina Silva? Mesmo sem vitória, que perspectivas a Rede, de Marina, ofereceria para o crescimento desejado por seu hospedeiro PSB? Até onde a Rede, fortalecida, prejudicaria as eleições pretendidas pelo PSB para o Congresso?

Decisivo em muitos sentidos, até o potencial de Marina é obscuro. Quem adota como indicador o seu desempenho na disputa passada, imagina possibilidades otimistas para agora. Mas a decepcionante transferência de apoios para Eduardo Campos e a queda da própria Marina, nas últimas pesquisas em que recebeu sondagem individual, jogam mais do que interrogação sobre aquele otimismo.

Algumas respostas preliminares podem vir de pesquisas nos próximos dias. Mas o básico para percepção do novo quadro, como já se tinha na formação anterior de forças e tendências, precisará de mais tempo do que os donos de bola de cristal suportam. Os indícios aproveitáveis não virão deles, como sempre, até por estarem fazendo mais política e torcida do que outra coisa.

Previsto para depois de amanhã, o início do horário eleitoral é o que de mais claro se pode ter de imediato: é provável que logo dê ideia da musculatura com que cada campanha entre no jogo duro. Mas, nessa indicação, também um defeito comprometedor: o programa forçosamente improvisado do PSB, com ou sem Marina.

O mordomo

"Falha humana", na explicação dos desastres aéreos, é como a culpa do mordomo. O comandante do voo de Eduardo Campos já está lançado na culpa hipotética por "desorientação espacial", como publicado na Folha, pela Aeronáutica e pela Polícia Federal.

Desorientação do piloto gerou o fogo que moradores da área dizem ter visto no avião? Ou, antes de coletados os destroços todos do avião, a Aeronáutica e a Polícia Federal comprovaram que os testemunhos são inconfiáveis? E, ainda que não houvesse fogo, são inúmeras as possíveis causas da queda, não havendo mais do que a hipótese de leviandade para a atribuição barata de culpa do comandante.

O segredo que por lei encobre as investigações sobre desastres aéreos não tem cabimento, ouvi há pouco de pessoa muito autorizada a dizê-lo. No Brasil já houve desastres, na aviação comercial, decorrentes de repetidas falhas de manutenção e de instrução silenciados com óbvio benefício para a empresa.

O atacante

Em carta à Folha, o assessor de imprensa Otávio Cabral diz que "a campanha de Aécio Neves" jamais associou uma eventual vitória de Eduardo Campos à socialização dos bens particulares, "como escreveu Janio de Freitas". Acusa-me de informação "inverídica".

Se lesse o artigo com mais atenção e menos má vontade, o assessor notaria que não me referi à campanha DE Aécio, ou seja, à campanha oficial do candidato. Meu texto mencionou "a campanha PRÓ-Aécio", isto é, a que apoiadores de Aécio fazem por seu candidato na internet e onde mais queiram. O resultado seria o mesmo se o assessor lesse o "Panorama Político" do "Globo" ou desse uma olhada na internet.

Quanto à campanha DE Aécio Neves dizer que é "marcada pelo debate de ideias e soluções" e "sem espaço para ataques pessoais", exige supor que também os demais leiam jornal e internet sem atenção. A premissa do próprio Aécio, de fácil comprovação em jornais, são ataques a Dilma Rousseff, com citação do nome, e à sua ação presidencial. O velho método de desqualificar o adversário, com que Eduardo Campos deu algumas espetadas em Aécio Neves.

Janio de Freitas
No fAlha

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