quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Eduardo Giannetti - economista de Marina Silva - quer acabar com o FGTS, 13º, férias e horas-extras



 Atenção 


Uma entrevista-bomba de Eduardo Giannetti

Postado em 09/09/2014 - 00:15
Atualizado em 11/09/2014 - 08:34

A entrevista de Eduardo Giannetti — o economista de Marina Silva — ao jornal Valor Econômico (clique aqui) é literalmente uma bomba. Giannetti — que é um filósofo — avançou radicalmente além das chinelas e, em nome de Marina Silva, apresentou um conjunto de propostas econômicas desconjuntadas e imprudentes.

Ele vai despejando medidas, parecendo atender às demandas de cada grupo aliado, sem conseguir desenhar o cenário resultante. É como se cada medida se bastasse a si própria, sem consequências para o todo.

Comporta-se como o jogador de xadrez novato que só consegue analisar a jogada em curso, sem discernimento sobre seus desdobramentos.

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Por exemplo, tem-se um problema: as interferências de Dilma nos preços administrados criaram uma inflação represada que impede a convergência das expectativas de mercado. Ninguém sabe para onde irá a inflação quando os preços forem liberados.

Dilma propõe — para o pós-eleições, é claro — um reajuste gradual das tarifas no tempo, para evitar um choque inflacionário.

Giannetti defende um choque tarifário — a correção imediata dos preços administrados. Se tem um problema — diz o valente — temos que enfrentá-lo.

De fato, tirará do horizonte uma variável indefinida. Mas a converterá uma expectativa de inflaçao em uma inflação concreta.

Quais os efeitos de um aumento súbito da inflação nas expectativas empresariais? Giannetti não saberia avaliar, mas sabe de uma coisa: choques semelhantes foram aplicados no início do governo FHC e Lula, sendo bem sucedidos.

O excelente entrevistador educadamente lembra Gianetti que, nos exemplos citados, o grande peso da inflação era dado pelo câmbio (que sofreu grandes desvalorizações nos dois casos) e não havia o quadro de emprego e renda que se tem hoje.

Confrontado com a informação, qual a reação do bravo Giannetti? Admite que "a situação em certos aspectos era diferente da atual, de fato" — o emprego do "certos aspectos" passa a ideia de conhecimento de todos os aspectos, sem a necessidade dele enumerá-los. E como tratar a situação diversa que se tem hoje? Da mesma forma. Limita-se a acreditar "sem a menor dúvida", como ele diz, "de que há um custo de fazer o ajuste hoje, mas ele certamente é menor do que o custo de não fazê-lo".

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Todas suas afirmações são reforçadas por demonstrações de fé e confiança, "sem a menor dúvida", "certamente". Não desenvolve raciocínios sobre os problemas apresentados, não estima desdobramentos. Mas "certamente" ele tem certeza de que o caminho que escolher é o melhor.

Suas teorias poderiam ser taxadas de "autoengano" promovido pelo excesso de fé e pouco uso da razão.

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Mas não fica nisso.

Não bastasse o alinhamento tarifário, ele defende a bandeira de que não haverá mais aumento da carga tributária — conforme a expectativa de vários ambientes em que foi vender seu peixe — mas propõe também a volta da CIDE (o imposto sobre combustíveis) — conforme a expectativa dos produtores de álcool com quem esteve recentemente. Ou seja, propõe dois choques para a gasolina: o realinhamento tarifário e a volta da CIDE.

Mas a volta da CIDE significa um aumento da carga tributária, observa o entrevistador astuto. Sim — admite Giannetti, que provavelmente não tinha atinado com essa obviedade. Mas responde com outra obviedade: cortaremos em outros despesas.

Quais delas?

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O que se tem até agora são dois choques tarifários disparando a inflação. A peça seguinte é um Banco Central independente, levando a Selic onde for necessária, mas sendo auxiliado por um choque fiscal, para dar coerência ao pacote.

E onde vai cortar? No crédito subsidiado, diz o filósofo do autoengano, em um momento em que Dilma Rousseff martela diariamente na sua campanha eleitoral sobre o significado de acabar com o crédito subsidiado. Hoje em dia, há crédito subsidiado para a indústria, agricultura e programas sociais.

Giannetti é adepto da tese de que a indústria chora por vício, não por necessidade. "Acho que a indústria deve se preparar para uma operação desmame. Ela está acostumada a chorar e ser atendida".

Com a eleição da Marina, a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES vai subir para não haver subsídio. Considera-se subsídio a diferença entre a TJLP e a Selic. A taxa distorcida é a Selic (que remunera os títulos da dívida pública); mas Giannetti trata a TJLP (que serve de base para os financiamentos) como se fosse a abusiva.

Toda a política agrícola é fundada em crédito subsidiado, assim como um sem-número de políticas sociais, como Minha Casa, Minha Vida.

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A indústria se verá frente ao aumento da inflação, aumento de juros de curto prazo (com a Selic) e de longo prazo (com a TJLP); câmbio apreciado, por conta da entrada de dólares atrás dos juros; choque tarifário, com o adicional do CIDE; sem políticas industriais pela frente. E como ficará o emprego?

O mágico Giannetti, o economista que não tem dúvidas, responde que "o desemprego já é uma realidade e a ideia é que termine o quanto antes". Como? Fé cega e tesoura amolada. "A experiência mostra que a capacidade de resposta da sociedade brasileira é muito forte. Tendo a crer que ainda em 2015 será possível ver a volta da economia ao crescimento, se for muito bem feito".

Não se trata de nenhuma afirmação científica, calçada em dados, analisando todos os desdobramentos da política econômica. Trata-se de matéria de fé: "Tendo a crer (...) se for tudo muito bem feito..."

Esquece que um choque inflacionário afeta diretamente as expectativas e a confiança dos agentes econômicos. Se junto com o choque inflacionária derrubar o mercado de consumo, quebrará a única perna que sustenta o PIB hoje em dia. E se, junto com a inflação, sobrevier uma recessão — fruto do choque fiscal e tarifário — só um milagre para empresários sem mercado e sem estabilidade de preços manterem a confiança na economia.

Perde a agricultura, perde a indústria e não ganham os programas sociais.

Eles serão mantidos apenas na hipótese de haver folga fiscal, como garante nosso bravo filósofo macroeconomista.

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Indagado sobre qual a diferença de Marina sobre os demais candidatos, Giannetti é cândido: "Não vemos a economia como um fim em si mesmo, ela é pré-condição para uma vida melhor para todos, de uma realização mais plena. O sonho que nos move é que a economia deixe de ocupar o lugar de proeminência que ela ocupa hoje no debate brasileiro para que a gente possa focar em questões ligadas à cidadania, à realização humana, à felicidade".

Luís Nassif

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A miséria da economia

Postado em 12/11/2010 - 21:24
Atualizado em 17/11/2010 - 08:01

Nassif, coloco este comentário aqui por não achar um tópico correspondente.

Estava assistindo no globonews o programa da Miriam Leitão, uma reprise que passou hoje a tarde.

Acabei vendo que lá participava um ex-professor meu, do curso de economia da FEA-USP. Decidi assistir o programa e ver do que daria dessa troca de idéias entre Miriam Leitão e Eduardo Giannetti da Fonseca.

Lembro-me do Prof. Giannetti como um economista pouco afeito ao rigor metodológico. Ele parecia mais um ideólogo do neoliberalismo. Seu discurso era um misto de conceitos economicos com filosofia liberal. Hayek, Locke, Voltaire, e aqui e ali algo tipicamente economês: deflação, taxa, curva de crescimento, feedback negativo, etc, etc. Lembro-me claramente, como se fosse hoje, ele com uma cara de deboche, dizendo a um colega de sala que não sabia o que era reificação. "Reificação? O que é isso? Não entendo esse conceito". E recusou-se a comentar este conceito marxista e sua critica ao capitalismo. Isso me pareceu emblemático de seu caráter.

Pois bem, voltando ao "espaço aberto" Miriam Leitão. O tema era taxa de câmbio. O tema da moda! Depois de um início bastante didático, cheio de conceitos e explicações simples, até de uma certa ortodoxia, eis que o querido mestre divide com seus pupilos a solução mágica que nos salvará da danação cambial. Vou dividir com você:

"Quando o câmbio brasileiro se valoriza, o fato básico é que fica caro em dólares produzir no Brasil. O custo de produzir no Brasil é muito alto em dólar. Nós perdemos mercado lá fora e os importados ganham mercado aqui dentro. O que nós podemos fazer hoje, independentemente de câmbio, pra reduzir o custo de produzir no Brasil? Existe uma coisa óbvia e que clama por ser feita, nós precisamos reduzir os encargos que incidem sobre a folha salarial das empresas no Brasil!". [Voilà!]. "Isso corresponde a um efeito de uma desvalorização do câmbio. O preço em dólar pode reduzir muito se reduzirmos fortemente o volume de impostos que nós cobramos da contratação e do salário aqui na economia brasileira. [Isso aí] incentiva o emprego, aumenta a formalização, é uma grande mudança de preços relativos, barateando o fator trabalho. Existe um lema em economia que [diz]: câmbio é salário. Câmbio é salário. É salário em dólar. Tá caro produzir no Brasil porque o salário no Brasil, relativamente à nossa produtividade, tá muito alto em dólar".

Bem, depois ele complementa essa mixórdia toda com algumas outras abstrações, às quais nao tive paciência de transcrever. A idéia central está aí. E é vexatória! Mostra claramente como construir uma mentira a partir de alguns conceitos válidos.

Brincando com os conceitos de preços relativos, ele conclui que a única maneira de ganhar numa relação de trocas que está contra nós é reduzir direitos trabalhistas. Acabar com FGTS, por consequência acabar com a multa recisória, acabar com o 13º, com as férias, com o DSR, com as Horas extras a 50% e 100%! Simples assim! Os EUA e a China resolvem mudar os valores das suas moedas, transferem ao mundo o valor da conta, e nós devemos repassar a conta a ser paga aos trabalhadores. Nenhuma palavra sobre juros e controle de capitais. Nenhuma palavra! As principais variáveis que definem a taxa de câmbio não foram sequer citadas na solução mágica do grande mestre.

Nem vou comentar câmbio é salário. A idéia em si já é uma grosseria.

Outra coisa impressionante, no sentido mais negativo, é o professor doutor Eduardo Giannetti colocar isso como uma solução para aumentar o emprego e a formalização. Por onde esteve ele nestes últimos 8 anos? Não sabe que a nossa atual taxa de desemprego é de 6,2%, próxima do nível de pleno emprego? Não sabe que foram gerados 15 milhões de empregos com todos esses direitos que ele quer extirpar como solução para um câmbio falsamente apreciado? Ou melhor, uma taxa de câmbio que foi levada à esse nível por conta de politicas deliberadas de 2 países.

Sei que é esperar muito dessa gente, mas não dá mais pra ficar assistindo esse festival de baboseiras.

Os economistas são os piores. Como diria meu ex-professor Adroaldo Moura da Silva, esse sim uma pessoa coerente, os economistas fazem tanto mal à sociedade que deveriam ser enforcados pelo saco!
andalex
No GGN

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