domingo, 7 de setembro de 2014

Relatório de situação - 2


Como já foi amplamente discutido por gente mais qualificada que eu, a "bomba atômica" lançada pela mídia nesse fim de semana é mais uma bomba comum que não deve causar maiores danos, talvez até nenhum, à candidatura Dilma. A não ser que surjam detalhes maiores e melhores que impliquem diretamente Dilma, improvável, a bomba causa mais danos a Marina pelo envolvimento de Eduardo Campos num esquema de corrupção que é provavelmente o motivo que não permite ao PSB sequer forjar uma mentira aceitável para o jato sem dono. Ao contrário de Dilma, alvo de ataques duríssimos desde 2010, Marina não parece ter jogo de cintura para se defender com algo melhor que a vitimização e não pode contar com a blindagem total que mantém Serra e Alckmin soltos com tudo que se sabe sobre eles. 

A melhor coisa que poderia acontecer a Dilma nos próximos dias é uma pequena transferência de votos de Marina para Aécio, dando a ilusão de que sua candidatura ainda está viva. Marina seria bombardeada como se fosse uma petista pela mídia desesperada para levar Aécio ao segundo turno.

E por que Aécio não poderia recuperar seus votos e disputar o segundo turno? Em primeiro lugar porque nunca os teve: seu pico de intenção de votos nessas pesquisas feitas por institutos que o apoiam foi de 21%, número muito abaixo do necessário para levar a eleição para o segundo turno. Aécio precisava que Eduardo Campos, agora Marina, crescesse vários pontos, mas sem chegar muito perto dele. Nada indicava que sua intenção de voto poderia subir muito na reta final e agora muito menos. Aécio provou a seus eleitores que é um candidato fraco, com um passado sujo e facilmente derrotável por Dilma. Quase impossível que essas pessoas recuperem a confiança nessas condições. Somente uma mudança total de cenário, com a demolição de Marina e a transferência quase integral de seus votos para o tucano poderia reacender o entusiasmo em sua candidatura. E aí cairíamos na situação anterior: é preciso que Marina caia muito, mas retenha uma grande votação. Ninguém sabe como fazer esse milagre e ninguém descobrirá como fazê-lo porque é impossível.

Dizer que Dilma pode vencer no primeiro turno pode causar algum espanto em quem vê as coisas da maneira como a mídia mostra, mas vejamos somente uma das coisas raramente mencionadas: com 37% das intenções de voto pensa-se que faltaria 13 pontos para uma vitória, mas os números das pesquisas são sobre o eleitorado total e uma parcela imensa NUNCA vota. Em 2010, numa eleição emocionante e disputada, 21,5% do eleitorado se absteve de votar. 29,1 milhões de pessoas! Ignorando os votos em branco e os nulos, temos que apenas 78,5% se dignaram a votar. 50% + 1 de 78,5% é 39,25% + 1, ou seja, Dilma pode ser eleita com apenas 2,25 pontos a mais do que lhe deu o Ibope na última pesquisa. 

Pesquisa nenhuma deve ser levada a sério, principalmente quando feita por institutos que pertencem a uma parte em disputa, mas a soma de inúmeras pesquisas feitas durante longo período de tempo mostra alguns fatos inegáveis e o primeiro fato é que, aconteça o que acontecer, Dilma terá no mínimo um terço dos votos. Não importam os candidatos e as bombas atômicas, seus votos não caem abaixo disso de jeito nenhum. Pode ser possível que Marina vença no primeiro turno, mas Dilma terá entre 33 e 37%, nada muda isso. Já de Marina e Aécio não se pode dizer isso de forma alguma. O desmoronamento de Aécio com todos seus recursos mostrou muito bem que só Dilma tem um eleitorado consolidado. Claro que tem também um eleitorado que não votaria nela de jeito nenhum, mas esse povo não é tão politizado assim: diante do desencanto com seu candidato, ou com a "certeza" de derrota, a tendência é que a maioria vá à praia ou ao campo e deixe de votar. Na verdade, esse eleitorado burro de direita prefere o feriado prolongado que a tão esperada derrota do PT. A derrota de Gabeira no Rio, atribuída ao feriado prolongado por muitos analistas, ilustra bem o que os leitores da Veja e fãs do Jabor têm na cabeça. Otimismo mantido.
P.S.: Chute numérico: Dilma dentre 39 e 42%, oposição entre 37 e 40%.

Adendo ao Relatório de situação - 2

Antes que alguém pergunte: de onde vão surgir os 4 ou 5 pontos percentuais a mais para Dilma? Vou dar o exemplo de São Paulo:

O próprio Lula deu uma dica ao falar do absurdo inaceitável de pesquisas mostrarem Dilma com 23% no estado. Lula, Dilma e o PT são rejeitados em SP, mas não nessa escala; as próprias pesquisas que mostram a rejeição indicam que a aceitação é muito maior que 23 ou 25%. Mais do que pesquisas, eu acredito no resultado de eleições: em 2012 o PT ganhou sozinho ou em coligações a maioria das grandes cidades e várias médias e pequenas. Besteira dizer que a rejeição ao Haddad é de tantos por cento ou que TODOS os prefeitos do PT são horríveis, isso não existe e nunca existiu. Com o chamado de Lula aos governantes e candidatos petistas para que saiam às ruas e cacem os votos à laço, somado à aprovação de Dilma, dividido pela hipotenusa da rejeição ao PSDB e o cateto da rejeição crescente ao lero-lero de Marina, não tenho dúvida que pelo menos o nível histórico do PT no estado será alcançado, cerca de 35%.

Em outros estados e regiões a situação é diferente, mas basicamente é Lula e o tempo na TV, além do esforço da militância com medo da derrota, que vai elevar a intenção de voto nessa escala realista. Nenhum fato novo é necessário, só esforço.
 

Nenhum comentário: