domingo, 5 de outubro de 2014

8 coisas que não esqueceremos desta campanha


1) A presença exuberante e renovadora de Luciana Genro

Com seu sotaque gaúcho, com suas melenas encaracoladas e com sua sinceridade desconcertante, ela dinamizou o debate político ao trazer à cena temas como a criminalização da homofobia, a legalização do aborto e a regulação da mídia.

Em um de seus momentos supremos, mandou que Aécio baixasse o dedo esticado para ela no debate da Globo. Aécio obedeceu.

 2) Os memes de Eduardo Jorge

Os internautas fizeram uma festa com frases e fotos de Eduardo Jorge depois do primeiro debate entre os candidatos, na Band.

“Finalmente descobri o que é meme”, escreveu Eduardo Jorge em sua conta divertida e concorrida no Twitter.

Logo as pessoas descobririam que EJ não é apenas folclórico. É um homem de conteúdo, e o mais capacitado defensor de uma economia ambientalmente saudável.

Mas não se limitou ao meio ambiente. Foi ele que informou vigorosamente aos brasileiros que 800 000 mulheres são criminalizadas anualmente no país por conta de uma anacrônica legislação de aborto.

Ao lado de Luciana Genro, virou uma estrela entre os jovens que sonham com um Brasil melhor.

 3) A morte de Eduardo Campos

O país chorou a queda do avião que matou Eduardo Campos e seu sonho de ser uma alternativa à polarização entre o PT e o PSDB.

Uma foto recente da viúva Renata com os filhos — todos sorridentes, num cartaz de apoio a Marina — trouxe satisfação a todos os que se comoveram com a tragédia de Campos.

 4) As entrevistas do Jornal Nacional

Bonner e Patrícia Poeta, para surpresa geral, se dedicaram a dar pancadas indiscrimidamente nos candidatos que entrevistaram.

Interrompiam respostas seguidamente, e por instantes pareceram ser mais que dois leitores de notícias de um telejornal cuja audiência despencou na Era Digital para a casa dos 20% — uma ninharia para quem, anos atrás, tinha 60%.

Uma segunda surpresa viria logo depois. A primeira vítima das entrevistas do JN foi Patrícia Poeta. Uma das versões é que ela não bateu o suficiente, mas é mais fácil crer que a real razão de sua saída do JN foi o vazamento da informação de que ela está comprando um apartamento de 12 milhões de dólares.

 5) A Marinamania

Marina chegou bombando, em substituição a Eduardo Campos. A cada pesquisa subia, e por alguns dias pareceu a franca favorita para a vitória.

Mas havia em seu caminho Silas Malafaia. Quatro tuítes de Malafaia, pode-se dizer hoje, destruíram a Marinamania.

Neles, Malafaia ameaçava tirar o apoio de Marina caso fosse mantido o texto pró-comunidade LGBT de seu programa.

Marina piscou. Começou ali seu declínio. Ficou fácil, para os adversários, colarem nela a marca de uma pessoa hesitante e errática.

 6) A ressurreição de Aécio

No auge da Marinamania, Aécio virou coadjuvante, espremido entre Dilma e Marina. Aliados já começavam a flertar com Marina, e a plateias no exterior FHC reconhecia que as coisas estavam realmente feias para seu candidato.

Só uma pessoa parecia acreditar em Aécio: o próprio Aécio.

Graças a essa fé cega em si mesmo, e também por conta das vacilações em série de Marina, Aécio chegou ao 5 de outubro com reais chances de ir para o segundo turno.

O morto estava vivo.

 7) A estupidez homofóbica de Levy

Levy Fidelix era uma piada até se converter numa infâmia no debate da Record ao fazer um discurso grotesco contra os homossexuais.

Num mundo menos imperfeito, ele sairia da Record algemado.

O lado bom de uma situação horrorosa é que involuntariamente Levy contribuiu para que a questão da criminalização da homofobia ganhasse destaque no final da campanha.

 8) O ganho de confiança de Dilma

Nas primeiras sabatinas, Dilma pareceu frequentemente tropeçar nas palavras e no tempo de resposta.

Mas depois foi se afirmando e acabou a campanha muito melhor do que começou.

Numa passagem memorável, perguntou a um jornalista do Globo — que pedia que falasse menos — quem, afinal, estava sendo entrevistado.

Foi notável, também, a maneira engenhosa como ela virou a seu favor o debate sobre corrupção.

Antes, no governo FHC, um “engavetador” geral da República tratava de colocar as denúncias na gaveta. Agora, elas são investigadas.

Da defesa, ela saiu para o ataque — e mudou a natureza do debate no país sobre a corrupção, uma arma sempre usada cinicamente pela direita contra governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.

Paulo Nogueira
No DCM


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