No segundo turno da eleição
presidencial, números de institutos são díspares e chegam a dar de 17
pontos de diferença em uma pesquisa até 'empate técnico' entre Dilma e
Aécio noutra
Thiago Domenici
No RBA
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Pesquisas de intenção de voto do segundo turno já apresentaram resultados distorcidos na disputa entre Dilma e Aécio |
Para o professor aposentado da Unicamp José Ferreira de Carvalho,
consultor da empresa Statistika e um dos profissionais mais reconhecidos
da área de estatística no país, as pesquisas eleitorais divulgam
margens de erro que não podem ser comprovadas cientificamente. Em
relação à discrepância dos números apresentados neste segundo turno da
disputa eleitoral à Presidência da República por vários institutos, ele é
enfático. “É mais fácil você acertar na Mega-Sena do que acontecer uma
coisa dessas”, destaca, em entrevista à RBA.
A partir da análise dos números díspares apresentados na reta final do
pleito e dos métodos dos institutos, que têm sido duramente criticados
neste ano por terem errado os percentuais finais de votos válidos de
alguns candidatos a presidente, governador e senador, o professor
ressalta que a margem de erro não é um “projeto estatístico” e que não
se deveria permitir a sua declaração, por ser “tecnicamente incorreta.”
Leia, na íntegra, a entrevista com o professor José Ferreira de Carvalho.
A margem de erro divulgada não é científica?
É verdade. Não é um projeto estatístico. Não se baseia em estatística. O
que a gente pode dizer, garantidamente, é que a margem de erro que
calculam não tem justificativa. Eles calculam como se a amostra tivesse
sido aleatória, mas o fato é que ela não é.
A justificativa tem a ver com o custo e rapidez?
É verdade. Para fazer uma amostra aleatória, como o IBGE faria, você
teria que ter a lista dos eleitores, seus endereços, e quem for
sorteado, tem de ir atrás. E isso é caro, demora muito. Agora, uma coisa
é certa: você não pode permitir que declarem uma margem de erro que
tecnicamente está incorreta. A declaração, portanto, é falsa.
É falsa?
Exatamente. E aí você vai para a parte empírica. Eles dizem que "Deus"
aleatorizou para eles, vamos verificar fazendo uma comparação com o
resultado das eleições com as pesquisas mais próximas do sufrágio
propriamente dito.
Bom, nós temos levantamentos em que as margens não batem coisa nenhuma.
Os desvios que se obtêm dão fora da margem de erro com uma frequência
muito mais alta do que seria estatisticamente de se esperar. Você não
pode, seja qual for a razão, usar as fórmulas da amostragem aleatória
para cotas.
Esse método por cotas é exclusividade do Brasil ou é um padrão internacional?
Eles não inventaram isso. Eles trouxeram isso de institutos de pesquisa
da Inglaterra e da França. Esse grandes institutos, Ipsos, etc, estão
por trás da formação dessa turma toda. Além disso, esses institutos
brasileiros estão nas mãos não de estatísticos, mas de sociólogos,
cientistas políticos, gente que, em geral, é avesso a matemática. Acabei
de escutar um conferência do professor Fernando Henrique Cardoso, com
todo o respeito, o que ele diz: 'bom, eu sou sociólogo, não sei resolver
uma equação de segundo grau'.
Na Inglaterra, houve um problema sério com essas pesquisas por cotas na
década de 1950. Então, o próprio governo inglês encomendou um estudo que
foi feito. Usaram amostragem aleatória e por cotas em paralelo para uma
mesma temática. E compararam os resultados. Empiricamente, as tais
amostragens de erro por cotas eram bem maiores do que a aleatória. Isso
está publicado.
Outro exemplo, se você quiser, é o Instituto Gallup, que fazia pesquisas
por amostragem e não aguentou a concorrência do institutos que faziam
por cotas, de forma rápida e rasteira. Mas nos EUA, eles
[Gallup]participam de todas as pesquisas de presidente e têm publicado
os resultados desde 1936 e por cotas. Aí deu problema nos anos de 1936 e
1946. E, em 1952, eles mudaram.
No segundo turno das eleições
presidenciais deste ano, já saíram algumas pesquisas de intenção de voto
para a presidência. Entre os números, as diferenças de intenção de voto
entre Dilma Rousseff e Aécio Neves passam por oito, 17 pontos e empate
técnico. Dá para confiar em pesquisa eleitoral no tanto que se confia no
Brasil?
Olha, eu não sei o que dizer sobre esse números, mas fico até arrepiado.
E te digo como estatístico, a resposta é que não dá pra confiar. As
margens de erro que declaram... Margem de erro é uma coisa importante e
as fórmulas que eles usam estão erradas. Então, em princípio, eu não
confio. Você tem 17 pontos de diferença em uma pesquisa, oito em outra e
zero em outra, ou seja, estão completamente fora. É mais fácil você
acertar na Mega-Sena do que acontecer uma coisa dessas.
Thiago Domenici
No RBA
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