sábado, 4 de outubro de 2014

Síndrome de Lacerda ataca PSB e PSDB na reta final



Não apenas o 'tapetão' do TSE, mas também a surrada ameaça de crise institucional entram no repertório da oposição; braço direito de Marina Silva, Walter Feldman chama presidente Dilma Rousseff de "autoritária" e vê "risco para a democracia" na reeleição dela; em nome do PSDB, deputado Carlos Sampaio entra com ação na Justiça pela impugnação da candidata do PT; se não der, ele quer que não haja diplomação; base para pedido é suposto favorecimento dos Correios na distribuição de material de campanha; apelidado de "corvo", espírito golpista de Carlos Lacerda (1914-1977) baixa forte na antevéspera da eleição; advogado Luiz Eduardo Greenhalgh criticou "golpismo"
Ex-governador do Rio de Janeiro, o jornalista Carlos Lacerda (1914-1977) foi uma das primeiras vítimas do golpe militar de 1964. Antes de ter seus direitos políticos cassados, porém, ele próprio advogava que uns deveriam ser 'mais iguais' que outros nas oportunidades políticas. Lacerda sonhava em ser presidente da República, mas não admitia que o mineiro Juscelino Kubitschek (1902-1976) pudesse voltar ao cargo:

— Juscelino não será candidato. Se for, não se elege. Se se eleger, não toma posse. Se tomar posse, não governa..., dizia Lacerda, em referência às eleições marcadas para 1965 — e jamais realizadas, em razão da interrupção democrática ocorrida no ano anterior. Ao ser atingido pela primeira onda de cassações do novo regime, Lacerda procurou o mesmo Juscelino e o presidente deposto Jango Goulart para formar a chamada Frente Única. Era tarde demais.

Nesta sexta-feira 3, o espírito golpista de Lacerda baixou forte na oposição à presidente Dilma Rousseff. Expressando um raciocínio perigoso num País que já sofreu uma série de rupturas institucionais, o braço direito da candidata Marina Silva, do PSB, simplesmente excluiu Dilma do campo democrático — ideia que, até aqui, a ninguém ocorrera:

— Dilma é autoritária. A reeleição dela vai representar um risco para a democracia brasileira, uma vez que irá exercer um governo bolivariano no Brasil, disse Walter Feldman.

O ex-tucano perdeu uma oportunidade de ficar calado — ou de trabalhar melhor para a sua candidata, em lugar de tentar carimbar em Dilma a marca da ruptura com a ordem institucional. A presidente, que vai completando quatro anos no cargo, nunca se envolveu em embates entre os poderes da República e, antes, jamais quebrou sua promessa de defender a Constituição. Feldman pode ter tirado suas preocupações muito mais da queda livre de Marina nas pesquisas, em benefício de uma escalada continuada de Dilma, do que na postura da presidente. Político de segunda linha, que precisou deixar o PSDB para ganhar mais expressão na frustrada tentativa de montagem do Rede, ele, certamente, tinha outras formas de agradar sua chefe sem ofender o caráter democrático da presidente.

Coordenador da campanha petista, o ex-ministro Miguel Rossetto, mostrou para Feldman o que fazer para consertar a gafe:

— Essa declaração é uma vergonha, ele deveria pedir desculpas imediatamente, disse Rossetto.

No PSDB, o lacerdismo baixou na forma da ida ao 'tapetão' do Tribunal Superior Eleitoral. Uma ação pela impugnação da candidatura de Dilma foi impetrada também nesta sexta 3 pelo secretário-geral da agremiação, Carlos Sampaio. Com base em suspeitas não comprovadas de privilégios, pelos Correios, na entrega de material eleitoral de Dilma em São Paulo — e de boicote à distribuição de propaganda do candidato tucano Aécio Neves em Minas Gerais —, sem qualquer cerimônia Sampaio buscou um nocaute da adversária. Se o primeiro golpe do pedido de impugnação não der certo — e há 100% de chances de ele não se acatado até o domingo 5 —, Sampaio quer que Dilma, uma vez eleita, não seja diplomada.

Para ele, uma resposta adequada foi dada pelo ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh. Em sua conta no Twitter, o advogado classificou o gesto como "desespero" e "ameaça golpista contra a vitória de Dilma".

A direção dos Correios já divulgou registros a respeito da correta distribuição dos materiais de campanha de Aécio em Minas, enquanto a denúncia de um sindicato de funcionários da estatal sobre o beneficiamento a Dilma em São Paulo ainda não tem materialidade. O PSDB de Sampaio apoiou-se, ainda, para tentar brecar a posse da eventual vitoriosa, numa declaração de um deputado petista falando sobre um certo "dedo forte" da direção dos Correios em Minas. Não se sabe bem o que isso significa, mas o gesto de Sampaio, no momento em que todas as pesquisas, sem exceção, apontam a vitória de Dilma em primeiro turno (e amplo favoritismo na eventual segunda volta), tem nome.

Chama-se apelação.

No 247

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