Ao entregar a taça de campeã à seleção alemã, neste domingo no Maracanã,
Dilma Rousseff voltou a ouvir vaias e alguns palavrões. As grosserias
foram bem menores do que as registradas na abertura da Copa do Mundo,
no estádio do Itaquerão, mas devem reacender a polêmica sobre a origem
de classe destes “indignados”. O tema já foi motivo de controvérsia
entre a própria presidenta e seu ministro Gilberto Carvalho, chefe da
Casa Civil. Mas uma rápida olhada nos perfis dos frequentadores dos
estádios nestes 30 dias de Copa no Brasil não deixa qualquer margem à
dúvida. A esmagadora maioria pertence à chamada “elite branca”, segundo
a clássica definição do liberal Claudio Lembo.
Até uma pesquisa do “insuspeito” Datafolha confirmou o óbvio. Realizada
com os torcedores que compareceram ao jogo Brasil e Chile, em 28 de
junho no Mineirão, ela mostrou que 90% se declararam pertencentes às
chamadas classes A ou B. Apenas 6% eram negros e 67% eram brancos, num
abissal contraste com a realidade étnica do Brasil. A pesquisa ainda
revelou que “a reprovação ao governo Dilma é quase o dobro da média do
país”. A própria Folha tucana, do mesmo grupo empresarial, foi obrigada
a estampar no título: “Brancos e ricos são maioria em estádio”. Ela
ainda concluiu: “Datafolha confirma a percepção de que quem frequenta
os estádios da Copa do Mundo é a ‘elite branca’”.
Outras conclusões do jornal tucano: “A classe média brasileira, que
ascendeu na era Lula, está muito pouco representada no estádio. Só 9%
dos torcedores são da classe C, enquanto na população esse estrato é de
49%. A classe B era a mais presente no estádio (61%), seguida pela
classe A (29%). Quase 9 em cada 10 torcedores brasileiros integram a
chamada população economicamente ativa (PEA): 48% são assalariados, 13%,
empresários e 10%, funcionários públicos. Dentre os 12% não ativos, 8%
são estudantes. O torcedor desta Copa se assemelha a um morador de
bairros nobres da capital paulista, como Moema (zona sul) ou Jardim
Paulistano (zona oeste), em termos de renda”.
Mas nem precisa de pesquisa para chegar a tais conclusões. A mídia
internacional logo percebeu a predominância da “elite branca” nos
estádios. Vários jornais estrangeiros estranharam a ausência de “pessoas
do povo” nos jogos e constataram a forte presença dos “endinheirados”.
A área VIP do Itaquerão, de onde partiram os primeiros xingamentos,
foi bancada por poderosas empresas, como o Itaú, Visa e outras, que
distribuíram milhares de convites para artistas e executivos das
corporações. Entre os mal-educados que gritaram “Ei, Dilma, vai tomar no
c...” estavam alguns “calunistas” da velha mídia golpista e várias
estrelas globais — da Rede Globo.
Apesar deste público hostil e asqueroso, a presidente Dilma Rousseff não
se intimidou e decidiu entregar a taça à seleção campeã — como outros
chefes de Estado fizeram em outras solenidades de encerramento da Copa
do Mundo. Em várias entrevistas durante a semana, ela afirmou que não
temia as vaias e colocou o dedo na ferida: “Quem compareceu aos
estádios, isso não podemos deixar de considerar, foi predominantemente
quem tinha poder aquisitivo para pagar o preço dos ingressos da Fifa. E
dominantemente uma elite branca. Em alguns casos, 80%, 90%, eram
dominantemente a elite branca”, afirmou, sem pestanejar, à jornalista
Renata Lo Prete no programa da Globo News, exibido na sexta-feira (11). Assista aqui.
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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