Donos do jato alertaram PSB para problemas na declaração ao TSE
Dois dias depois da queda do jato Cessna que levava Eduardo Campos do
Rio de Janeiro a Santos, dirigentes do PSB foram chamados a uma reunião
num hotel de São Paulo pelos empresários João Carlos Lyra Pessoa de
Mello Filho, Apolo Santana Vieira e Luiz Piauhylino. No encontro, os
empresários explicaram que o partido teria problemas para declarar as
despesas com a aeronave ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque a
transação estava “irregular”, segundo afirmou ao O Globo um dos
participantes da reunião.
Os empresários fizeram um histórico da operação aos pessebistas,
afirmando que estavam pagando parcelas do jato comprado da AF Andrade,
mas que a transferência da propriedade não estava concretizada porque a
Cessna Finance não tinha aprovado as garantias oferecidas por Lyra e
Apolo. Com isso, afirmaram, não seria uma tarefa fácil resolver as
pendências relacionadas à regularização da aeronave, e o partido deveria
se preparar para enfrentar questionamentos sobre a legalidade do uso do
avião e da operação de compra.
No dia 1° de setembro, duas semanas após o encontro, no entanto, o PSB
divulgou nota em que se dizia “alheio” às negociações entre os
empresários pernambucanos e a AF Andrade. Na verdade, integrantes do
partido ficaram sabendo detalhadamente dos problemas que envolviam a
operação de compra do avião 48 horas após o acidente.
Ainda durante a pré-campanha, dirigentes do PSB cobraram Eduardo Campos
sobre o contrato de aluguel ou empréstimo da aeronave. O mesmo ocorreu
logo depois de oficializada sua candidatura e quando as viagens a bordo
do Cessna se intensificaram. “Está tudo bem”, “está tudo sob controle”,
“fiquem tranquilos”, respondia Campos sempre que abordado sobre o tema,
segundo relato de dirigentes do partido .
Após mais de um mês da tragédia que matou o presidenciável, o PSB ainda
não conseguiu resolver a questão. A aeronave não foi declarada na
segunda prestação parcial de contas de Eduardo Campos enviada à Justiça
Eleitoral no dia 3, nem na do comitê financeiro da campanha
presidencial.
O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, havia declarado dias antes
do prazo para a entrega da segunda parcial das contas ao TSE que os
gastos com a aeronave seriam computados, o que não aconteceu. Vice de
Campos até sua morte, Marina Silva disse que se tratava de “um
empréstimo que seria ressarcido pelo comitê financeiro”. Nada disso
ocorreu até agora.
Em vez de detalhar os gastos com a aeronave, o PSB encaminhou ao TSE uma
petição com contratos relativos ao avião e documentos com a autorização
de Lyra e Apolo do seu uso pela campanha de Campos. O partido também
disse que pediu à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que calcule o
número de horas voadas pelo Cessna de 5 de julho a 13 de agosto, data
do acidente, para informar ao TSE na prestação de contas final, em
novembro, os custos dos voos.
A Anac, no entanto, informou que não identificou o documento que teria
sido enviado pelo PSB e que o partido deveria fazer a solicitação à
Aeronáutica, que tem registrado os planos de voo das aeronaves.
Oficialmente, a aeronave está registrada na Anac em nome da empresa AF
Andrade, que recebeu R$ 1,7 milhão pela venda do Cessna, de um total de
cerca de R$ 20 milhões. Segundo revelou o Jornal Nacional, as empresas
que fizeram os depósitos para a AF Andrade são fantasmas.Informações do
Globo
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